Somos obras de suas mãos

O título trata-se de uma frase retirada da música de Padre Zezinho, chamada de “Cantiga por Francisco”. Em tal música, expressa-se muito o pensamento do modo de ver o mundo de um dos Santos que mais se aproximou de Cristo pela sua vivência radical do evangelho, São Francisco de Assis. Para ele, tudo que existe na terra é obra das mãos de Deus. Assim tudo que Francisco via, ele chamava de irmão e irmã.

Por Genival Carvalho

26/02/2021

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Fonte: Calvin Craig no Unsplash

Neste texto, pretendo mostrar brevemente a conversão de Francisco e seu modo de perceber em tudo a ação de Deus. Francisco trata-se de alguém que foi e é admirado por diversas pessoas no mundo, que vai além da comunidade católica. E mesmo passado mais de 800 anos de sua vida, ainda existe muitos jovens que ao ouvir a história do jovem de Assis ficam maravilhados. E a partir de seu testemunho procuram viver a palavra Daquele que está acima de todas as coisas, Jesus Cristo. Que é digno de todos os louvores, que mesmo sendo Deus “se fez homem e habitou entre nós” (Jo 1, 14), e com seu sangue derramado na cruz, lavou nossas almas, nos libertou do pecado, deu-nos a possibilidade de uma vida nova e nos mostrou com sua vida as lições de amar mesmo quando não somos amados, de perdoar mesmo quando não somos perdoados e compreendidos. Mostrou-nos uma das maiores lições para seguir o caminho que nos leva até Ele, que somente seremos grandes quando somos pequenos.

Pequenos no sentido de olharmos nosso próximo no mesmo patamar, na condição de um ser humano, sem a intenção de lhe apequenar, de jogar-lhe na sarjeta para nos sentirmos melhor. Pois, quando dependemos do fracasso do outro para nos sentir melhor, é porque, com certeza, não entendemos a dinâmica do evangelho, da boa nova que Jesus nos propôs. E Francisco entendeu e viveu a essência do evangelho, amar, ser humilde, e anunciar o evangelho com o testemunho de vida.

Assim, antes de refletir o modo de Francisco se relacionar com tudo e todos que se encontram no mundo, quero falar brevemente do seu processo de conversão. Francisco era filho de um grande comerciante de tecidos, ou seja, na época, era de família rica, e o seu sonho e de seu pai era que Francisco fosse um grande guerreiro para lutar na guerra. A vida de Francisco era totalmente diferente daquela que ele viveu após sua conversão. Ele rotinamente esbanjava em festas. Mas depois que ele se encontrou com o Senhor através do crucifixo na igreja de São Damião, ele escuta e sente um grande chamado em seu coração que vem do crucifixo, “Francisco vai e restaura a minha igreja”. De imediato ele não entendeu a mensagem, pensava que se tratava da igreja física. No entanto, o chamado, o plano de Deus em sua vida era muito maior do que ele imaginava.

Francisco aos poucos entende o chamado de Deus, não ver sentido na vida que seguia e vive radicalmente o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, tanto que ele se desfaz até mesmo da própria roupa, deixando qualquer herança que lhe pertencia para trás, se colocando integralmente ao anúncio do evangelho. Francisco tinha encontrado o que alguns mesmo tendo uma visão perfeita não enxergam. Um tesouro que nem a traça e a ferrugem corroem.

Nesse processo de sua conversão, nasce naturalmente um modo de ver o mundo, um modo de conceber o outro, como filho e filha de Deus, e as coisas, chamando-as de irmã e irmão. Desde uma pequena planta, um pequeno pássaro ao seu semelhante chamavam todos de irmão ou irmã. A bela música que citei no início do texto, de Padre Zezinho, relata o modo de Francisco se relacionar com as criaturas do mundo, como diz uma estrofe da música: “Irmão vento, irmão sol, irmã lua, irmão lobo, tu és meu irmão. Rouxinol, sabiá, criaturas de Deus. Somos obras de suas mãos”. O livro de Gênesis, nos capítulos 1 e 2, relata a criação do mundo. Deus criou o céu, a Terra, os animais, as plantas, o homem e a mulher. São Francisco entendeu muito bem e interiorizou no mais íntimo de sua alma que tudo que se encontra no mundo foi criado por Deus, e assim afirmava com sua vida que tudo deve ser cuidado e respeitado. E até mesmo a morte, chamou-a de irmã, e entendeu que ela não é, para aqueles que creem, o fim.  

 Francisco nos dá uma grande lição hoje, pois os interesses de boa parte da humanidade estão acima do cuidado com o rio, mares, ar puro, as florestas… Perdemos o controle da nossa relação saudável com as obras de Deus. E muitas vezes, vemos até a própria relação do ser humano com o outro totalmente contrária com a mensagem do evangelho, reduzindo a vida, um dom que recebemos, a uma coisa insignificante.  No entanto, muito maior do que qualquer mal é a luz Daquele, Jesus Cristo, que nos guia pelos caminhos da paz, do amor, da compreensão, da sabedoria, do respeito, da valorização de tudo que foi criado. E Francisco também nos ensinou o amor pelo outro e pelas obras de Deus com seu modo de viver. Contudo, Jesus não é somente a luz, é também “o caminho, a verdade e a vida”, João 14, 6.

Enfim, São Francisco de Assis sempre terá algo para que possamos nos espelhar, tanto no processo de conversão quanto no modo de vermos e de nos relacionarmos com o mundo. Na passagem bíblica de João 13, 34, Jesus diz, “eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros”. Quando nos colocamos no processo de amar, mesmo errando nos tornamos mais humanos. E a santidade também é um caminho que nos leva ao que tem de melhor na nossa humanidade, e assim buscarmos, numa busca contínua, viver à luz Daquele que sempre nos amou, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Que a paz de Cristo estejam sempre conosco.